Food service (alimentação fora do lar) é o conjunto de negócios e serviços que tem como finalidade atender o consumidor que come fora de casa.
Com faturamento de R$ 215 bilhões, a alimentação fora do lar representa, em média, 2,9% do PIB brasileiro. Segundo dados da ABIA – Associação Brasileira da Indústria de Alimentos -, o faturamento total, somando food service e varejo alimentício, movimentaram em 2019 R$ 560 bilhões. Um crescimento de 6,3% em relação a 2018.
Ingrid Zahler Devisate, diretora executiva do IFB – Instituto Foodservice Brasil -, destaca que após um período de estagnação, 2019 mostrou-se positivo ao setor e esperava-se um crescimento entre 5,5% e 6% para 2020.
Números consolidados nos primeiros meses do ano, porém, devido a pandemia, houve retrocesso e ainda não há novos dados sobre a performance do setor em 2020 e como isso impactará os próximos 5 anos do setor.
Para entender melhor a importância do setor, neste conteúdo fazemos um “raio X” da alimentação fora do lar. Vamos falar sobre os números durante a pandemia, quais são as características dos negócios de food e sobre os principais desafios a serem superados durante o isolamento social e no processo de retomada da economia.
MENU DE NAVEGAÇÃO
1 → Número do food service durante a quarentena
2 → O setor de food service no Brasil
3 → Características dos negócios de alimentação fora do lar
4 → A economia compartilhada no Food Service
5 → Sustentabilidade como fator estratégico e econômico
6 → Abastecimento e distribuição: os desafios do food service
7 → Diferenciais competitivos: soluções e inovação para se destacar
8 → Como empreender no setor de food service
9 → Cenários e tendências para o setor pós-covid-19
1 → Dados do food service durante a quarentena
Mesmo em meio ao caos o setor sobrevive. Dados do IFB mostram que embora lenta a recuperação acontece. Na análise do Instituto, 66% dos negócios mantém suas “portas abertas”, com 54% deles atuando com operações de delivery, que representam para o modal, um crescimento de 32% em relação a 2019.
Como podemos perceber nos gráficos, o crescimento do off premises é de 78% no período avaliado. Na relação ao desempenho dos negócios, o IFB aponta uma queda de 44% no número de vendas na primeira semana da quarentena (março) e uma recuperação durante o mês de abril, registrando 4,7%, na última semana do mês.
Cenário do delivery no interior do Brasil durante a quarentena
Cenário similar ocorre no interior do país. De acordo com dados da Delivery Much, o número de pedidos via delivery aumentou 47% e o número de novos usuários em 155%.
O aumento do ticket médio também é um fator importante, pois demonstra que o consumidor continua comprando de seus estabelecimentos preferidos e encontra no delivery a solução imediata.
01/02 – 15/03* pré-isolamento |
16/03 a 30/04 Isolamento |
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Pedidos | 1,15% | 47% |
Novos usuários | 1% | 155% |
Lojas | 4% | 29% |
Ticket Médio | 1% | 3,95% |
Por outro lado, o ponto de atenção está no baixo número de novas lojas cadastradas no app. O crescimento tímido reflete, segundo Carol Bortoleto, consultora especialista em food service, a falta de planejamento do setor. “Em muitos negócios a operação de delivery foi organizada a toque de caixa.”, explica ela.
Organização tardia evidenciada ao olharmos para os números de lojas em operação semana a semana durante o isolamento social. Na primeira semana de fechamento, em março, segundo o IFB, apenas 57% das lojas estavam operando, chegando a 66% na última semana de abril. Para Ingrid, dos 34% que ainda não estão operando, acredita-se que cerca de 2,5% não voltem a operar.
2 → O setor de food service no Brasil
Com o 4º maior mercado do mundo, apenas atrás dos EUA, China e Japão, o país possuía, antes da pandemia, cerca de 1.3 milhão de estabelecimentos e empregava diretamente mais de 6 milhões de pessoas, sendo um dos principais incentivadores do primeiro emprego no país.
Ingrid Zahler Devisate, diretora executiva do IFB, destaca que esses números devem ser revistos após o isolamento, para que o setor tenha uma fotografia real e busque meios ágeis à recuperação.
Setores que compõem o food service
É comum observar o setor da alimentação fora do lar apenas pelos restaurantes e estabelecimentos que fazem o atendimento final ao consumidor. Contudo, o segmento é composto por uma longa cadeia, que se inicia no produtor e vai até à “boca” do cliente final.
- Produtores: responsáveis pela produção de insumos de base como hortaliças, carne e outras matérias primas, que podem ser distribuídas à indústria ou diretamente aos operadores;
- Indústria alimentícia: responsável pela cadeia de produção, abastecimento e atendimento aos operadores (restaurantes, bares e lanchonetes) e outros canais do food service;
- Indústria de equipamentos: responsáveis pela produção de equipamentos à indústria alimentícia, distribuidores, operadores, etc;
- Operadores logísticos: responsáveis pela distribuição e armazenamento de insumos para o food service;
- Prestadores de serviço: se enquadram na categoria serviços de catering (eventos), limpeza, delivery, entre outros;
- Cash & Carry: se refere a negócios que oferecem produtos tanto para operadores quanto ao consumidor final como hipermercados, conhecidos como atacados.
- Operadores de meio de pagamento: responsáveis por operações financeiras exclusivas no setor de food service (Sodexo, Ticket, etc);
- Operadores de rede: são bares, restaurantes, lanchonetes, ou seja, negócios que atuam na produção e venda do produto final para o cliente consumir fora de casa.
Expansão e retração no food service
Por ser um setor que depende exclusivamente do consumidor final, crises econômicas são o principal fator de expansão ou retração do mercado. Dados da Abia, IBGE e da Consultoria Food Consulting demonstram, na série histórica, uma queda em 2014, retração em 2015 e uma retomada tímida a partir de 2016, chegando a 3,4% em 2019.
A montanha russa observada ocorre justamente em momentos de subida e queda da economia, deixando evidente que o setor é dependente de uma economia saudável para crescer.
Contudo, não é apenas a economia a vilã do setor. Segundo a Abrasel, cerca de 80% dos operadores não possuem CNPJ, fator que dificulta entre outras coisas, o acesso ao crédito.
Para Ingrid a formalização é um desafio que gera outro problemas. Ela explica que de um lado há fornecedores não exigem compra mínima e de outro: negócios emprestam o CNPJ para o vizinho, dificultando a profissionalização do setor e construindo um novo desafio para o setor.
Além disso, a profissional destaca que mesmo antes da epidemia os negócios já buscavam fazer compras mais enxutas. “A expectativa que temos é: as compras não serão mais de abastecimento, mas de reposição. Isto não significa que o negócio não vai mais fazer compras grandes, mas ele vai comprar somente o que precisa. Então, temos um novo fator para a cadeia: a compra de reposição”, finaliza ela.
3 → Características dos negócios de alimentação fora do lar
Diversidade é o adjetivo ideal para categorizar o food service no Brasil. Como vimos acima ele é composto por um conjunto de negócios, que pode ser dividido em produção, indústria e operação.
Olhando apenas à operação, o setor tem como característica principal o negócio familiar. Segundo a Abrasel, 80% deles são de pequeno ou médio porte e, em geral, como destaca Carol Bortoleto, especialista em Food Service, iniciam suas operações de forma caseira e expandem.
Essa característica atualmente vai ao encontro da busca do consumidor por alimentos mais saudáveis e autênticos. Movimento conhecido no mercado como: “comida de verdade”. Além disso, esta particularidade traz o olhar para o pequeno negócio, iniciativa que vinha se acentuando desde antes da pandemia e agora ganha corpo e apoio de grandes empresas.
Por outro lado, a falta de planejamento também é um característica do segmento, o que acaba os prejudicando. Por este olhar, especialistas destacam a importância do plano de negócios, para o setor de food.
“É preciso entender sobre custos, formação de preços, embalagens e sobre o cliente também. Eu entendo que isso demanda tempo, é complicado, mas essa busca por desenvolvimento é necessária”.
Carol Bortoleto, consultora especialista em Food Service
A fala da profissional ilustra a necessidade de profissionalizar o setor. Dados da Abrasel destacam que 35% dos operadores fecham suas portas em menos de dois anos.
Problema que ficou muito evidente no início da quarentena. Carol comenta que muitas empresas não tinham caixa para sustentarem por mais de 17 dias. “Isso é muito preocupante. É preciso entender que abrir um negócio de food não é tão simples quanto se imagina e que ele deve ser enxergado, realmente, como um negócio”, reflete.
A importância do plano de negócio
Planejamento é essencial para CNPJs e CPFs, um desenho apurado dos passos a serem dados evita inúmeros problemas, entre eles, talvez, o mais preocupante a quebra do negócio ou da pessoa física.
Segundo a Abrasel, antes de iniciar a montagem do negócio é essencial o desenvolvimento de um plano de negócios, que aborde:
- Identificação da oportunidade de negócio.
- Quantificação da clientela.
- Estimativa de faturamento.
- Investimento necessário.
- Custo operacional.
No plano de negócio, o ponto principal a ser avaliado é qual será o retorno do investimento (ROI) e em quanto tempo ele acontecerá. Ter esse dado é importante, pois assim o empreendedor pode entender como está o desempenho do negócio e construir ações para alcançar metas estipuladas.
Além disso, o planejamento deve dar ao empreendedor uma evidente noção sobre estrutura, custos fixos, como luz, água, impostos, insumos à produção do produto, mão de obra e custos variáveis.
4 → A economia compartilhada no Food Service
A ideia do ter está se tornando obsoleta, ao menos isso é o que os dados da economia compartilhada dizem, mesmo durante a pandemia, as empresas que constroem esta lógica se mantém ativas.
É evidente que houve queda nos dados divulgados pelas duas gigantes do setor, mas é importante lembrar que este mercado vai muito além do Uber e da AirBnb.
No mercado de food service, talvez a forma mais comum de compartilhamento seja a partir do conceito de dark kitchens (cozinhas fantasmas). Estes negócios que existem apenas nos apps de delivery, geralmente funcionam em espaços físicos compartilhados que podem abrigar vários restaurantes ao mesmo tempo.
Porém, há várias outras formas de economia compartilhada, que podem ser utilizadas para aumentar vendas e gerar negócios além do tradicional.
Segundo Ingrid Zahler Devisate, diretora executiva do IFB – Instituto Foodservice Brasil -, parcerias entre supermercados e restaurantes são bem comuns no EUA. E embora a prática não seja tão difundida no Brasil, a profissional acredita que a busca por esse tipo de parceria é um caminho importante para o setor.
Ela aponta como case de sucesso a parceria entre a Ofner e a rede AM/PM durante a páscoa. O mesmo sucesso se repetiu com a Delivery Much. A empresa expandiu as operações do app para lojas de chocolates e de presentes em geral, em datas comemorativas, como a própria páscoa, dia das mães e dia dos namorados.
Olhando para os próximos passos do setor, na economia compartilhada, Ingrid destaca que as opções são muitas e podem ir desde a disponibilidade de produtos prontos para vender dentro de farmácias até parcerias diretas entre negócios complementares, como uma churrascaria e uma conveniência de bebidas.
Parcerias focadas na solidariedade
Ignorar a existência da pandemia é impossível, pois a partir dela se está construindo novos formatos de consumo e de compartilhamento. As redes sociais nesse processo se tornaram um canal agregador e disseminador de boas ações.
Em uma busca simples é possível encontrar inúmeras ações que beneficiam de um lado negócios e de outro pessoas que precisam de ajuda. As parcerias podem ser construídas com associações de moradores, como outros negócios ou mesmo com grandes empresas.
Em Florianópolis, por exemplo, uma iniciativa de moradores da Lagoa da Conceição criou um projeto que conta com doações para distribuir alimentos para moradores em situação de rua. No processo, o projeto também serve como sistema de manutenção e divulgação de pequenos negócios da região que produzem o alimento que será distribuído.
Projetos similares acontecem em todo o Brasil. Até mesmo grandes empresas, como a Unilever, trabalham com projetos similares para potencializar o pequeno negócio e ajudar quem precisa de ajuda neste momento.
O ponto, no entanto, está em ir além apenas deste momento de crise. Estas parcerias podem ser replicadas para fortalecer o pequeno negócio de forma contundente. Para a consultora especialista em food service, Carol Bortoleto, é preciso pensar muito em ações para se trabalhar junto e ter um maior cooperativismo no setor como um todo.
5 → Sustentabilidade como fator estratégico e econômico
Dados do Brasil Food Trends 2020 apontaram a sustentabilidade entre as principais preocupações do consumidor. Na contramão da tendência estão os negócios, segundo o portal Vida e Ação, um restaurante comum produz em média 193 kg de lixo por dia.
É claro que o problema é de todos, mas partindo do jargão, “cada pequena atitude conta”, há cases de sucesso de negócios que reduzem a produção de lixo a praticamente zero. Um exemplo vem de Florianópolis, o Restaurante Origem, que conseguiu reduzir a produção de resíduos em 10%. Leia mais aqui: Restaurante de Santa Catarina é o primeiro do Brasil a receber certificado Lixo Zero.
Contudo é importante destacar que sustentabilidade, não está apenas ligada ao descarte correto do lixo produzido, mas na forma como as empresas se posicionam no mercado como um todo.
O mercado está cheio de exemplos de negócios que perderam clientes por atitudes consideradas ruins pelo público. Durante a pandemia, casos positivos e negativos deram o tom de como os consumidores reagem aos posicionamentos das empresas.
Fatores sustentáveis:
Saudabilidade → se você não conhece o conceito, você está atrasado. Saudabilidade foi considerada pelo Euromonitor e pelo Brasil Food Trends 2020 como critério decisivo de compra a partir de 2020.
Os estudos ganham chancela ao verificarmos que cerca de 28% da população brasileira traz na sua rotina a busca por alimentos saudáveis, movimentando cerca de US$ 114 milhões por ano.
Na prática, saudabilidade é um conjunto de critérios que são atribuídos ao alimento. Logo para ter saudabilidade é preciso:
- ser livre de lactose;
- ser livre de glúten;
- ser livre do sódio;
- ser livre de agrotóxicos.
Contudo, não paramos por aí, o conceito de saudabilidade se refere à mudanças de hábitos, por uma vida mais saudável, o que traz à mesa a discussão da rastreabilidade de alimentos.
Rastreabilidade de alimentos → de acordo com o código de defesa do consumidor, qualquer produtor deve disponibilizar informações básicas sobre o produto nas embalagens. Porém, você não deve se preocupar apenas em cumprir uma lei, mas sim, em entender e atender as necessidades do seu cliente.
Segundo estudo do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável, o consumo de alimentos orgânicos teve um crescimento de 26% no país. Ming Liu, diretor executivo da instituição, define que isso mostra uma maior consciência do brasileiro na hora de buscar alimentos, uma vez que 90% dos entrevistados dizem apenas comprar produtos com o selo de procedência.
Responsabilidade → qual a responsabilidade do seu negócio na produção de lixo e poluentes na cidade ou mesmo bairro? Essa pergunta é essencial, pois, como aponta o estudo da Euromonitor Internacional, a busca pelo limpo está cada vez mais acirrada e as pessoas e empresas de grande porte estão buscando se distanciar de negócios que estejam fora do contexto sustentável. Logo, estar de olho em como a marca transita pela cidade é essencial. Por exemplo, se você faz campanha de lixo zero, mas há embalagens com seu logo sujando praças e parques, você precisa repensar suas ações.
Respeito ao outro → a forma como as empresas tratam seus funcionários, fornecedores e clientes foi apontado como item essencial no relatório do Brasil Food Trends 2020. Embora a ação não seja intrínseca ao conceito clássico de sustentabilidade, ela vai ao encontro do conceito de ética, item essencial para qualquer empresa, que ganhou corpo em 2020.
Sua empresa e o plástico → o uso do plástico é algo cultural no Brasil. Segundo o Portal do Senado, 1.5 milhão de sacolinhas plásticas são distribuídas por hora no país. O problema se agrava no descarte desse material. Sem nenhum cuidado além de levar mais de 500 anos para se decompor, o produto é motivo de inúmeros acidentes com animais, principalmente marinhos.
Logo, além de trabalhar com embalagens sustentáveis, o ideal é que você também eduque seus clientes, explicando quais problemas e custos a utilização única e descarte inadequado das embalagens têm para o meio ambiente.
Qual caminho seguir no seu negócio
Por mais que você não tenha descartado a sacola no meio ambiente, você ainda é responsável por ela. 87% dos brasileiros dizem preferir consumir de empresas responsáveis e 70% não vê problema em pagar um pouco mais por isso.
Algumas saídas sustentáveis
- Vidro: além de durável, o vidro é uma excelente embalagem para armazenamento e manutenção de alimentos. Além disso, o produto ao ser reciclado não libera substâncias tóxicas e pode ser reciclado diversas vezes;
- Alumínio: embora se originem em um processo danoso ao meio ambiente, o alumínio tem a vantagem de ser reciclável quase que infinitamente. O ponto de atenção para o material está no bisfenol, um tipo de plástico que reveste as latas de alimentos.
- Embalagens de cogumelo: produzidas a partir de raízes de cogumelos e húmus, este tipo de embalagem é biodegradável não causando danos ao meio ambiente;
- Papel reciclável: este tipo de embalagem tem a vantagem de conservar muito bem o alimento e ainda poderem ser recicladas após a utilização.
6 → Abastecimento e distribuição: os desafios do food service
Abastecimento e distribuição fazem parte de um dos principais desafios de praticamente todos os segmentos de mercado.
Segundo o portal e-commerce Brasil, um estudo da CNI (Confederação nacional da Indústria), o Brasil investe apenas 2,1% do PIB em infraestrutura, valor muito abaixo dos 5% investidos por outras economias emergentes, como o Chile, por exemplo.
Contudo, o problema é muito mais profundo, como 80% da logística do país está concentrada no transporte rodoviário, estudiosos acreditam que pelos próximos 15 anos não haja avanço no setor.
A notícia não é inspiradora, logo o foco é buscar soluções que atendam às suas necessidades e não deixem seus clientes na mão.
Um caminho (tendência), já citado aqui, é a compra de reposição. Isto é, de acordo com o IFB, os negócios passarão a fazer compras mais espaçadas e focadas no que está faltando. Embora, isso pareça um contra senso, pois o negócio não terá mais produtos em estoque, a solução pode ser resolvida ampliando os canais de aquisição de produtos.
Possibilidades para aquisição
Grandes empresas → grandes indústrias possuem meios e recursos mais efetivos para a entrega de insumos ao operador na ponto. A dificuldade neste caso está, como já citado, que muitos negócios não possuem formalização ou não atingem a “compara mínima”, nesse caso, alguns caminhos a seguir são:
- formalizar seu negócio;
- firmar parcerias com outros negócios locais e fazer uma compra conjunta;
- fazer compra para um período mais longo e gerar estoque;
- formalizar um contrato com uma grande empresa.
Para este último ponto (contrato), Ingrid Zahler Devisate, diretora executiva do IFB, destaca que a negociação deve sempre prevalecer. Ela explica que o contrato com uma grande empresa dá ao negócio a garantia de entrega e maior agilidade na troca e manutenção de equipamentos permutados por exemplo.
Por outro lado, ela traz a questão do preço. “O valor sempre tem que ser avaliado pela negociação”, explica. A boa notícia é que tudo aponta para uma maior abertura das grandes à flexibilidade de negociação.
Cash and carry → o modelo mais conhecido como atacarejo ou atacadão é um caminho rápido e está presente em praticamente todas as cidades. O problema do modal, segundo Ingrid, está na falta de alguns produtos. “Provavelmente, com a abertura de restaurantes sem crédito para comprar de indústrias e com o movimento crescente em atacadistas, pode ser que o produto falte”, aponta ela.
Neste ponto, a executiva defende a necessidade e a importância da negociação e um maior flexibilização por parte da indústria. “Temos também uma questão de bom senso, pois a maioria destas empresas (operadores) têm como garantia seu próprio recebível, o que terão futuramente de caixa”, reflete ela.
Distribuição
Porém o outro lado também encontra desafios. Entre eles está a alta demanda, principalmente no período atual da pandemia. Como solução muitos apps fornecem soluções full service aos seus parceiros. Isto é, o app é responsável pela captação do pedido e também pela entrega dele.
Na prática isso facilita o dia a dia do restaurante, pois ele não precisa se preocupar com a distribuição do seu produto. Por outro lado, principalmente nos grandes centros, alguns apps não conseguem dar conta da demanda e a saturação do sistema.
No interior o problema é outro. O delivery online ainda é uma novidade em muitos locais, devido a isso e pelo fato de muitas cidades não possuírem um mapeamento completo, não é possível contar apenas com as informações do Google ou do Waze. Segundo a Delivery Much, que foca sua ação em cidades do interior, para contornar a falha, foi preciso desenvolver um sistema próprio de validação para que não haja problemas na hora da entrega dos produtos.
Entregas via app no interior do Brasil
7 → Diferenciais competitivos: soluções e inovações para se destacar
No mercado, em geral, todos buscam pela famosa bala de prata. Aquela ideia sensacional que irá diferenciar um negócio de todos e levá-lo aos braços do consumidor.
Na prática, embora isso seja possível, não é algo simples de acontecer. Mas, talvez, o ponto principal esteja em entender o que é inovação.
Segundo Leandro Carioni, diretor executivo da Fundação Certi, a inovação acontece quando você produz algo de maneira diferente e com isso gera mais valor, ao passo que este novo processo substitui o anterior.
Um exemplo simples para esse processo são os apps de delivery. O delivery sempre existiu, mas a forma como ele é utilizado e gera valor econômico foi sendo reestruturado e embora, ainda existam pessoas que preferem ligar para o local para pedir um lanche, é inegável que a prática está caindo em desuso.
Dito isso, olhando para o mercado de food service, onde a inovação é praticamente uma obrigação, encontrar novos meios de chegar ao cliente, entender e atender às suas necessidades pode ser a linha entre a sobrevivência e o ostracismo.
A boa notícia está na facilidade de se inovar neste mercado. Os caminhos são os mais variados e podem ser algo simples, como uma mudança no cardápio, ou mesmo uma mudança radical e a transformação do seu negócio em uma food tech.
Embalagens
Se você faz delivery, você deve se preocupar com a embalagem. Ela é um diferencial competitivo para o seu negócio. Segundo Alexandre Cardoso, gestor comercial da Delivery Much, a embalagem é, atualmente, parte do seu estabelecimento e mostra ao cliente o quanto você se preocupa com ele.
Cardoso explica que nada impede a entrega de um produto em uma sacola plástica, porém a questão é: qual a experiência que entregue para o cliente? Qual a percepção que o consumidor terá deste negócio?
O profissional aconselha, na hora de escolher a embalagem pesar custos e margens do produto, mas aconselha, nunca deixar de lado a imagem e a qualidade do seu produto.
Cardápio
Inovar no cardápio não está relacionado apenas a ter soluções digitais, isso facilita muito a vida do seu cliente, mas você precisa pensar: o seu cliente tem familiaridade com tecnologia? O cardápio digital será, portanto, uma ajuda ou um problema?
Além disso, como traz Fabrício Maia Leite da Oak’s Burritos, a inovação no cardápio pode ser construída a partir de uma análise do que você mais vende e de combinações de produtos que você já possui.
Parcerias
Com quantos fornecedores e outros negócios você tem contato em um dia de trabalho? Acredito que vários, pois bem, o ponto aqui é você usar seu networking para se diferenciar dos seus concorrentes.
Uma possibilidade é você olhar para os dados do seu negócio e entender, por exemplo, se houve aumento de vendas em produtos veganos. Se o dado for positivo, você pode fazer uma parceria com o seu fornecedor de hortifruti e disponibilizar no cardápio estes alimentos frescos.
Food Techs
Na prática, foodtech é uma empresa que une tecnologia e alimentação em prol de um mercado mais inteligente, saudável, sustentável, dinâmico e eficiente.
Apostar em uma foodtech pode ser importante, pois além de ter ou se aliar a negócios que estão estruturados e preocupados com pautas de sustentabilidade e saudabilidade, estes negócios primam pela inovação e vêm chamando atenção de investidores e do público em geral.
E, não necessariamente você precisa construir uma foodtech, você pode vender os produtos destas empresas e buscar conhecer mais sobre este mercado que engloba desde apps de gestão de food service, passando por apps de delivery até empresas que desenvolvem alimentos a partir da tecnologia.
8 → Como empreender no setor de food service
Os caminhos para empreender no food são pelo menos 8. Você pode apostar em qualquer um dos setores que compõem o segmento, criar inovações e negócios dentro de cada um deles, ou elos entre as etapas.
Em outras palavras, as oportunidades são muitas. O porém está em entender todas as etapas do food service, pois quanto maior seu conhecimento, melhor e mais rápida será sua reação para momentos de baixa, e escolher um nicho que esteja adequado ao seu perfil empreendedor.
Concluídos estes passos (entender o setor e escolher um nicho), seu foco deve estar em se aprofundar no nicho escolhido; conhecer concorrentes, fornecedores, pontos fracos e fortes, interesse do público e a que fatores externos o negócio está suscetível.
Ter esse dossiê do seu futuro negócio irá te dar informações suficientes para entender se o empreendimento vale a pena. Segundo Carol Bortoleto, empreender na alimentação fora de casa é promissor. “Todo mundo tem que comer e na retomada da economia as pessoas vão continuar trabalhando fora. Então, eu acho que é uma oportunidade sim, mas deve ser conduzido com planejamento”.
Oportunidades em alta no setor de food
Delivery: há cerca de dois anos, especialistas e instituições vinham apontando o delivery como o grande trunfo para o mercado de alimentação. Segundo o Statista, a dominância do mercado aconteceria em 2023.
Na prática, devido a pandemia, dois anos se concentraram em meses e o delivery se tornou o principal canal de vendas de muitos negócios e o principal meio de compra.
Cervejaria: segundo do dados da Delivery Much, a categoria de alimentos mais vendido via delivery no interior do Brasil é a bebida. É evidente que na categoria a cerveja é apenas um item, mas com grande representatividade.
De acordo com o Sebrae o setor cervejeiro cresceu 30% em 2019 e mesmo com crise, de acordo com Carlo Lapolli, presidente da Associação Brasileira da Cerveja Artesanal (Abracerva) é esperado um crescimento de market share para o período.
Alimentação saudável: de acordo com uma pesquisa da Consultoria Galunion, há uma forte tendência à alimentação saudável para o segundo semestre. O estudo apenas confirma as projeções do estudo Brasil Food Trends 2020 que já destacava a saudabilidade como tendência a partir de 2020.
9 → Cenários e tendências para o setor pós-covid-19
Devido ao crescimento do desemprego e o grande número de lojas sendo fechadas, Ingrid Zahler Devisate, diretora executiva do IFB – Instituto Foodservice Brasil -, aponta que o retorno dos negócios será de muitos desafios e oportunidades.
Para a profissional, o maior desafio está na falta de crédito. “Ao olharmos para o retorno, em meio a pandemia, alguns pontos devem ser colocados, pois há empresas que precisam comprar 3 milhões de visores, luvas, máscaras e se não há crédito é muito difícil continuar sem mandar um número grande de pessoas embora.”, enfatiza.
Por outro lado, ela vê que existem caminhos, principalmente em relação às adequações na hora de vender. “Tem redes como a AM/PM pensando em implantar drive thru e takeout. Algo que vimos muito na China. Além disso, muitas mudanças devem ocorrer nas embalagens. Agora precisamos pensar em produtos que sejam descartáveis.”
Caminhos
Pagamento sem contato
As adequações com foco na segurança e as mudanças no comportamento do consumidor tornam obrigatório pensar e investir em soluções de pagamento sem contato. Para Ingrid, o ideal é que haja investimentos em qualquer solução que passe o sentimento de segurança e cuidado para o consumidor.
Combos
Combos já fazem parte da rotina de muitos negócios. De acordo com pesquisa, realizada pela Delivery Much, 89% dos negócios acreditam que combos ajudam a vender mais. Ainda de acordo com a empresa, estabelecimentos que oferecem este tipo de produto tem, em média, um acréscimo de 30% no faturamento.
Alimentos congelados
Pizza, marmitex, coxinha, pão, etc. A venda de produtos congelados também era uma prática comum entre os restaurantes. Cerca de 25% dos negócios vendiam seus produtos neste formato antes da quarentena. Durante a quarentena esse número subiu para 28% e outros 6% dizem buscar adequações para testar o modelo.
Além destes caminhos destacados aqui, há várias oportunidades que podem ser avaliadas em embalagens, delivery e em parcerias.
Para finalizar, o entendimento do food service como um todo é importante, pois a partir desse entendimento é possível encurtar caminhos e encontrar soluções criativas para momentos como o que passamos agora. É evidente, as estratégias devem ir além da crise; devem estar no dia a dia do negócio com foco em otimizar e planejar soluções para atrair, reter e manter clientes fiéis ao seu negócio.